quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O monarca

Estou na janela
que dá para
o átrio.
Meus olhos fotografam
a paisagem
como quem
observa
um retrato:
Os escravos passam
e levam consigo
suor;
Comerciantes
vendem
suas frutas;
e mulheres
oferecem-se à labuta
de lavadeira.
A tarde inteira
o passo é o mesmo,
até que surge
uma nova igreja,
e mais meninos
são catequizados,
não se trata de fé este ato,
mas de zeloso cuidado
para manter próspera a nação.
Algumas rainhas visitam-me
ao cais;
trazem-me
de Voltaire
a Rousseau; fazem-me
de servo, por vezes.
Aprendo com os anseios
reais
a ser um ser real,
mas de nada vale
o peso desta missão
senão pudermos
olharmo-nos
despidos de sofreguidão.
Então reflexivo,
me torno reflexo
da era que passa embaixo dos
meus pés.
Na janela do átrio,
há um retrato
para a igreja
que é viés
desta peleja dura
e intransferível.
Os homens são livres
por suposição, mas
será que realmente o são?
Talvez, somente serão
até que a dor de não ter
transborde sobre a alegria
de se ter,
e faça tudo se desenvolver
longe da lógica natural.
Não há humana razão nestas palavras,
mas há alerta
do que precisa ser abandonado.


Fabiano Martins

4 comentários:

  1. O rei está nu...e o reino agradece...
    Bravo!
    Beijos e obrigada pela visita!

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  2. ...do que precisa ser conquistado!
    Abraços!

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  3. ...do que precisa ser vivido!

    Beijos.

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  4. " ´o rei está nu`,mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nu."

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