sábado, 31 de março de 2012

Ventania

Venta.
Pelas montanhas onde põe-se o sol,
pelos aterros com carros apressados,
por entre desterros
e amores fadados.

O vaticínio do vento que entra no galpão vazio -
pela escuridão e pela noite trazendo frio -
é infortúnio e vida;
é para a lavra aguerrida,
como a fava aferida
na saga vivida.

Continental.

O vento move partículas,
desfaz montanhas,
desmede medidas.
Nele, ouço, passo e sinto;
Morro, caibo e minto.
Sou o que posso e o que não posso também.

Respeito o vento como oração,
verborragia
e amém.

E ele me grita aos domingos,
aos sábados perdidos,
aos grandes amigos.
Nos ouvidos,
nos olvidos.


Fabiano Martins

quarta-feira, 28 de março de 2012

Adventício

- Como posso eu ser o oposto de mim mesmo?
- Mortes e aniversários...
- Num dia tão certo sobre a beleza da vida,
e num outro tão sombrio quanto a noite,
a ponto de até imaginá-la
trégua.
Como posso eu ter o dia me escorrendo no rosto
e crer num amanhã que nunca chega
ao eterno hoje em que me encontro?
- Mortes e aniversários!
Tudo o que espero, tudo o que faço...
- Mortes e aniversários.
Mortes e
aniversários.


Fabiano Martins

quinta-feira, 22 de março de 2012

Adeus

Adeus.
Não levo nada. Deixo ausência.
Meu corpo cansado repousa,
enquanto me apresento à comunhão
em Deus.
A Deus não levo nada,
apenas minha presença.
Além de dor transformada em força:
abrir e fechar os olhos, mover as mãos.
A morte se rompe e faz lembrar da vida,
de Deus,
da razão de estar aqui.
E tudo parece fazer sentido,
ainda que seja um sentido distante,
ausente de compreensão.
E tudo parece fazer sentido
pelo último e inaudito adeus,
pela separação.


Fabiano Martins