terça-feira, 14 de agosto de 2012

Coincidentes e ignorantes

Coincidimos nesta terra, ignorantes do amor,
a procurá-lo.
E, dentre tantos dias, coincidimos, ignorantes,
a desejar intempestivamente as estrelas - 
estrelas que não brilham,
que não são.
Pobres dos homens - entregues à sorte,
embebidos em tantas vontades
e sensações,
a coincidirem nos mesmos dias,
a saciar sua prole com erros iguais.
Pobres destes que se afastam,
que se admiram, que se enlevam.
Pobres mortais, que espreitam seu destino,
que temem a solidão - são fátuos pela dúvida de seu vaticínio, 
pois não sabem se viver 
será em vão.


Fabiano Martins

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Distrações


Como são tristes as almas brasileiras.
Náufragos tristes estes do Brasil.
Como são tristes os homens felizes,
tristes os abastados...
Como são formosas e belas
as paisagens brasileiras,
as mulheres tristes,
as coisas que nos alegram.
Como é fugidia a alegria verdadeira
o êxtase do agora,
o trabalho braçal.
Como são muitas as pessoas tristes -
não possuem vieses; não podem se perder...
Como são tristes as almas do melodrama,
as frases que repetem remendadas
o seu medo de aprender.
Como são tristes os que se acham felizes,
porque estamos verdadeiramente longe do propósito...
neste mundo material,
mundano...
como é triste ser feliz!


Fabiano Martins

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Cia de deus

Na cia de deus,
sob os escombros dos homens,
sob a égide de um inferno em mármore,
entre as visões escondidas,
a ver o mesmo círculo se fechar...
Na cia de deus,
do alto,
sob as foices da morte,
sobre as coisas que dizem,
sobre minha própria sorte...
observo
cada ínfimo momento perdido,
cada intenção de gestos,
cada qual em seu lugar...
observo.
Na cia de deus,
do alto,
da minha dor,
da minha repulsa,
do meu asco de te olhar...
observo assombrado
(na cia de deus)
cada passo fadado,
cada descaso,
cada sina.

Na cia dos olhos meus,
obcecados em ver deus,
imagino algo peculiar.
Imagino meu mundo secreto,
meu próprio universo 
compreendido entre a dureza
do lugar em que estou
e a retidão de rezar.


Fabiano Martins