quarta-feira, 22 de junho de 2011

Centelha

Há escondida na treva
ou na cegueira da luz
Uma força que permeia
tudo aquilo que seduz

Sob seu olhar vermelho,
Os carros passam
E a sanidade é exposta
contra-posta aos seus preceitos
fundamentais

Há nos seus bolsos chaves
que libertam e aprisionam
Suas mãos ceifam, escarlates,
o que os povos reclamam

Tende à virtude,
bem como a todo mal
é inerente forma
que orbita um ser humano real

Fabiano Martins

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Envelhecer

Sobre o que vai no coração
- o amor, talvez o perdão -
Sobre o que dá em teu peito
e me aquece
Sobre o que me pertence
E a quem de direito for:
Aqui está meu coração.
Enfrentar o mundo é perigoso
Leva do alto ao fundo do poço,
Do peito de pombo
até os joelhos no chão

Pertenço a mim mesmo,
rezo na cartilha que criei
Penso que o mundo é batalha
na qual à condição de peão
me empenhei
Luto no front
onde é meu lugar
Estou na rua
por todos os lados
A querer me encontrar

Mas a visão do amor à noite
é compassiva
Permite que nos encontremos
sem a nossa presença física,
através de fios de cobre
que emitem sinais.
Abro a boca e mostro os dentes
ante a separação de quintais

Crio barriga e sofro
já não me aventuro mais
As vicissitudes juvenis
fenecem e
levam parte dos impulsos vitais


Fabiano Martins

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Pedido

Já pedi ao mundo certeza
e tive dúvida
quando do sonho pedi tranquilidade
o despertar me trouxe angústia
Quando do fundo do olho cansado
rolei lágrima,
Vi melhor pela sua água

Já pedi ao mundo dinheiro
e ele me trouxe dívidas
Já pedi ajuda divina
Mas encontrei a dificuldade
na qual se atina,
na qual arestas se aparam ferozmente
e faz do homem um ser menos leniente

Mas, sobretudo, fui resistente
e dessa vez pedi ombros fortes
Fui brindado por suposições
e oposições ao meu pedido iguais em porte

Sou o que luta de armadura em punho
trago orgulho e não cigarros
Trago o que for preciso para ordenhar do caos
o que me fortaleça
E de seguir em frente
ter certeza

Não importa o que traz o amanhã
seja o que pedi, ou não
Não importa quais presentes
os falsos sorrisos trarão
De ombros fortes
peço ao mundo
(o que não mais faço em vão)

Fabiano Martins

Saudade

Falo a ninguém
enquanto ninguém me vê
Falo enquanto posso
Escrevo para não morrer
Me deixo em pequenas lembranças
e por elas tenho amor
Saudade é ter esperança
Viver é enfrentar a dor.

Fabiano Martins

quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Gosto e preciso de ti,
Mas quero logo explicar,
Não gosto porque preciso.
Preciso sim, por gostar."

Mario Lago

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pedaço

Pedaço
do meu coração
entre meados de uma história
sem passado
sem compreensão
histórias de criar
um mundo
Meu despedaçado
pedaço
a contra gosto
se finca num mar de palavras
se desespera
frente à incompreensível
razão
Somos seres fadados
ao descaso
seres de amor muito
e vida pouca
de mãos e pés
apenas
e que ainda assim
fazem da terra
melhor terra

O sol já vem brilhar
apasiguar
dar trégua
achar água no fundo dos olhos
achar olhos no fundo do mar
meu amor feito canção
não é soneto
não é soneto, não
feito pra ser rápido
e profundo
Arrastado
pela necessidade de
ser você
o que terei de achar
ou então qualquer outra pessoa
que não seja outra qualquer
mas que me diga
em seus gestos
alguma coisa
que faça lembrar
a paciência tremulante
de você
Como você
ainda deve estar
Ainda me ama?
pergunta dura
dúvida
duvida de mim a capacidade
de manter
fixo
o olhar

Quero tão pouco
o amor
de um fim sem início
a inocência
do dia e da manhã
o brilho
sim, o brilho
que reside em teu corpo,
pois pouco resta de quem sou
pela manhã
onde não está
Já era a vida
de dizer tantos nomes
em histórias finitas
ser teu amante
Dá-me uma sugestão!
Sugira um fato
um recado
uma resposta mesmo que não
seja essa
a resposta
ao meu ouvido esperada
a ouvir
dizeres quaisquer
de qualquer tempo e seu porvir
Diga pra mim
que já tão desapegado estou...
minha grande pequena afeição
de apenas um jeito sabe ser:
meu tipo
minha palavra morta
meu coração arredio
dissipando-se em tropa
ao cair noite finita
sem tino
sem beijo
sem tiritas
de estrelas
sem brilho


Fabiano Martins