sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Faísca

Ninguém brilha.
São fosfenos, impressões,
rápidas sensações que servem ao fantástico,
ao entusiástico.
O homem que brilha: 
essa ideia leva apenas ao desalicerce da construção.
O homem não brilha, 
ele nasce para usar as mãos.
Esqueça esta vanglória;
é uma luz vazia em que o egoísta se avia;
é uma foz de água suja;
é uma armadilha.


Fabiano Martins

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Observação


Do pensamento sobre a paisagem:

I
- As aves no céu se jogam num voo alegre
Aquela moça se movimenta levemente
Este longo silêncio me acalma

II
- Aves voando assim... mau agouro!
Não gosto da maneira afetada daquela moça
Este silêncio me mata

Das aves:
Voamos porque necessitamos de comida
Abaixo, as pessoas que não percebemos
Com seus olhares ocultos e pensamentos...

Da moça:
- Neste momento estou sendo julgada
Sinto que sou observada; mexo-me e pouso...
sou leve e emancipada.

Do silêncio:
Do silêncio há que se entender que não há nada. 
Nele pode haver má compreensão... talvez 
um julgamento certo que a
razão cala.


Fabiano Martins

domingo, 2 de setembro de 2012

Nós

Ora, já não serias tu refletido no espelho?
Já não serias tu responsável pelos atos que cometestes?
Já não serias tu, com teu livre-arbítrio, senhor do seu destino,
senhorio de tuas horas,
de teu suplício, de tuas glórias?
Ora, não terá sido você 
a obra terrena em que a energia deu vida
e que a evolução levou a crer
que algo haveria depois, e, por isso, consternado, hoje,
pões essas tuas mãos na direção
do céu à procura de consolo?
Pois que se do contrário... 
Ah, se do contrário, já não serias mais você e sim teu corpo!
Já não serias mais um espírito e sim gordura!
já não serias mais amor
e sim profano!
Ora, mas não serias aquele milagre
que rompeu o ventre na direção da luz?
Não serias aquele mesmo inocente
cujo a aleatoriedade das circunstâncias
modificou e transformou
em um homem
em uma mulher:
Não serias tu, filho desta pergunta que fazes 
com este olhar marejado pela dúvida,
com este olhar sequioso - de igreja?
Não serias tu como eu
e como eu, também forte e fraco
e decididamente
ignorante?
Ora, então que sejamos!


Fabiano Martins