sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Tez

Um pé depois do outro,
Outro pé que venha a pisar
São buracos pelo caminho
pedras pra gente andar

Descalço sigo sorrindo
sou mesmo de deixar levar
às vezes quero rédea da vida
às vezes quero me jogar

Sobrepujar, subjulgar
mostrar a ninguém que nada devo
mostrar a mim mesmo
neste ensejo
que a todos não há de se agradar
e que o caminho é posto entre espinhos
propositalmente para se machucar

Cidade, verdades tão duras
duram tanto quanto um breve suspirar
Na rua que inunda, profunda,
o outro lado
nado para alcançar

As cicatrizes abertas no meu corpo
são marcas do que deixou a viagem
um dia chego enfim, morto
lembrando de tudo que era paisagem
e levo comigo as cicatrizes
não as da carne, pois esta fica
Levo comigo as marcas da alma
o que aprendi na dinâmica tez
da vida.


Fabiano Martins

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sadness

Meu nome é esperança
seguido de tristeza;
é a peça que bóia no ar
desafiando a física;
é a força intrínseca que se esgota
para então sublimar.

O meu nome é temperança
e ando de mãos dadas com o destino.
Hei de ser melhor por ter tino
e de me salvar pra ser
hino.

O meu nome não é palpável
nem afável.
É amável,
solícito,
sangrento,
explícito.

Específico.
Torna a cair no chão,
como o brinco faz pingar
o sangue contra a carne do varão.

Ainda que seja a carne mole da orelha
revela, oprime e semeia,
do mesmo modo
que se pode observar
a luta desigual
e a desiludida face,
que não está

A arma pulsa:
é o sangue em minhas mãos.
O meu nome é esperança,
temperança;
é andança e fuga
pra solidão.

O ardor do peito meu
queima.
É andor: No carro teu, reina.
É a dor de fora batendo na porta
espreita,
aquieta,
morre
e se vê
ressurreta
em alguma forma.

Então são meia-noite
e o meu nome é tristeza apenas,
revelo o que é bom
por tua atenção,
esgoto minha veia pequena.

Quando forem três da manhã
o trem terá partido.
O meu nome não é bom,
tem gosto de algo antigo.
Uma grande depressão.

Onde a dor foi morar
sinto falta de tudo que uso,
sou propenso a me aventurar,
e, no desuso deste tentar imaginar,
rogo aos céus.
Palavras não hão de faltar.
Então, me aterro na solicitude da sala
e entre as teclas, bato os dedos devagar

São sonoros ruídos;
são zumbidos que vem me gritar.
A onomatopéia pérfida da vontade
de quem mora dentro do ser
que penso habitar

Ouço o que fala comigo,
ouço o que vem deste som.
Interpreto zumbido e gemido
como força contra constipação:
O animal escuso dentro da alma,
a real fonte que se ignora
abre contra a vida o que não vou aceitar,
que não controlo nada,
que sou chama animada
pelo fogo do seu olhar.


Fabiano Martins.