quarta-feira, 18 de abril de 2012

Do pensamento anárquico

Se te pedem o troco na rua,
dê tudo que tens.
A divisão nesse mundo é injusta,
não te custa custear alguém.

Mesmo que esta intenção legitime
a bebedeira inveterada de outrém.

Qual razão para viver é a mais sublime -
e quem sou eu para responder...
e você é quem?

Se te pedem algo na rua,
dê mesmo que vá te faltar.
Há verdade na água da chuva,
mas não em se negacear.

A carteira repleta é ilusão,
preenchê-la a qualquer preço,
irremediavelmente,
levará à perdição.

Não te locupletes
de coisas vazias: compras, cabelos, companhias..
Ora, o que te faz superior a alguém?
Mesmo o mendigo que às tramas se lança,
em tanta armadilha e tanta intenção,
é um homem - também um bicho, -
a qual o outro não estende a mão.

Por isso, te peço que does
o que lhe permitir o ego,
sem ter demasiada vaidade
pelo seu desapego.

Palavras eu entrego
a quem as quiser portar.
Não sou capataz do dinheiro,
pois que este é um meio matreiro
de fazer o amor faltar.


Fabiano Martins.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Pão

Nem todas as ruas da cidade
vão conseguir me levar
a entender toda complexidade
que há no encontro do teu olhar.
Nem mesmo todas as rosas póstumas.
Nem mesmo todas as miudezas do destino.
Nada vai me levar
a deixar de ser puro tino.
Pois é a fé o que me move
e a certeza da tua mão.
É a fé o que move
e não o desejo por pão.


Fabiano Martins

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Anátema

Plim - tal e qual o som do silêncio.
Natural e frugal, como a brisa.
Plim. Formou-se a coisa anencéfala e invertebrada
em vértebras - fossa cefálica.
Plim. Abriu com o corpo autônomo caminho.
Não sabia que existia.
Sentia. Grunia.
Falou.
Sentia, queria.
E o desejo por bem estar o fez querer mais.
E o medo de se abastar o fez sofrer.
Plim. Ambiguidade.
Nascia o ser que construiria cidades.
E seguiu abrindo caminhos,
e seguiu nunca e sempre
sozinho.
E seguiu, entre alguns que se esqueciam.
Entre outros, que lembravam -
em progressão positiva e má,
sob o mote da aventura,
para justificar minha existência.
E seguiu em nome do pai.
Em razão de estar aqui.
E quis sofrer e desejou não ver.
E foi, sobretudo, condescendente.
Para frente.
Para frente.
Sobretudo, crente.
Mesmo descrente, levianamente.
Bondosamente.
Conveniente.
E morriam e nasciam.
E justicavam... ah, como justificavam!
E morriam e nasciam.
E amavam - como amavam!
E morriam e nasciam.
E odiavam - sim, odiavam!
E queriam e falavam...
se esbarravam, guerreavam.
E morriam e nasciam.
Trabalhavam. Discordavam.
E nasciam e morriam.
Socorriam. Suspiravam.
E doíam-lhes os músculos, que pululavam e saltitavam.
Mas nada doía mais do que existir
e consentir que não sabiam,
mas estavam.
Nada doía mais do que saber
que não sabiam,
mas que morreriam e nasceriam.


Fabiano Martins

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Independente

Meus mestres estão mortos.
Entretanto, não paro de aprender com eles.
Meus sentidos são impetuosos,
por isso ando a calafetar a mente.
Meus olhos se alimentam do que está por trás
daquilo que se vê à frente.
Querem ser independentes.
Não acredito em talento nato, mas em trabalho.
Meus mestres estão mortos;
então, protejo seus retratos.


Fabiano Martins

terça-feira, 10 de abril de 2012

O Navegante

Mesmo distante,
nunca obstante,
sempre errante
no Mar.
O Navegante segue a pintura,
segue a curvatura,
segue a bojar.
Entre as paredes,
segue a sofrer,
pois precisa da brisa
para viver.
O Navegante não traz correntes,
não é decente,
nem dá seu nome aos filhos seus.
É viajante,
sempre errante,
nunca obstante,
mesmo distante
em cada adeus.


Fabiano Martins

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Procura

Aquele que acredita no sistema diz:
Temos que não consumir o caro!
O anarquista diz:
Temos que compartilhar!
A mulher diz:
Eu quero.
Alguém responde:
Eu sou.
Há o amor que é sincero
em face do que sobrou.
O visionário prefere morrer
e o homem de ação sobreviver.
Assim, somem filósofos,
enquanto os inocentes não sofrem jamais.
Assim condescendentes
como o carrasco à voz
que executa;
como o amor dado em permuta.
Por tudo o que sofreu
o ser mais humilhado
e por tudo aquilo que viveu
o Rei mais exaltado.
E por toda a clave
e todo tição,
toda a saliva
e todo quinhão,
Hei de usar minha palavra
em busca da compreensão.


Fabiano Martins