domingo, 22 de novembro de 2015

depoimento

A minha vaidade quer
a tua resolução convém
as palavras perdem seus sentidos
pessoas alimentam-se do desdém

Não caibo nas ruas pequenas,
nas vielas estreitas em que me condicionei a andar.
Não quero as coisas perfeitas
pois que estas são feitas para acabar.
Acabo por querer o que tive,
quando tudo o que tenho já quis.
Estou vivo quando me arrependo
quando dentro desta casa, lendo,
penso na imensidão,
penso no amor que tenho pelas coisas rotas
que se esfarrapam pelo caminho,
pela faísca morta dos tesouros vindos.


Fabiano Martins

Desacordo

minha voz, 
minha voz apaga
frente à tua voz, minha voz aumenta.
Com fogo apago o frio que faz na montanha.
Com fogo apago o fogo que faz.
Minha voz, minha voz agasta.
Agastada, minha voz fenece.
Fenecida minha voz sucumbe.
Sucumbida ela é destituída.
Mas frente à tua voz  
minha voz cresce.
Tua voz me dá alimento
porque bebo desagravo
E ódio é solução para um bochecho.
Minha voz, tua voz engrandece
porque bebo ódio
mas sozinho... sozinha, minha voz enrouquece,
anua,
embranquece.
Apenas a raiva
me leva embora a melancolia,
apenas a raiva me faz rugir de euforia
e por isso não concordo.
Eu descordo.
Em comum, temos o desacordo.


Fabiano Martins

da feira

o cheiro da peixe é pra lembrar a feira
que passou
o vento nas folhas anunciam aquosa precipitação
sopram
nas folhas verdes das plantas não colhidas
pelo caminho
o cheiro da chuva é pra lembrar que ela vem
que é água
o seixo que espuma
nao consciente
orienta
serve pra ver que estamos vivos
aqui
imersos entre terra e céu
em nossa realidade
de chuva
de peixe
de vida


Fabiano Martins