quinta-feira, 28 de junho de 2012

Nota

Eu também sou um Karamázov
Também odeio e desprezo,
também estudo e rezo,
também vivo minha 
devassidão.
Eu também me perdi
na vergonha;
fui cristão na montanha
e, mesmo à face da morte,
consegui me convencer que 
não.
Eu também sou um Karamázov.
Eu também tenho irmão.
Eu também me sinto vivo
embora às vezes sinta que não.
Eu também sou um Karamázov.
Filho de um Pai Pavlov.
Filho de um Karamazov.
Inocente, culpado e
bufão.


Fabiano Martins

terça-feira, 19 de junho de 2012

O milagre

Ao fecundar um óvulo,
acordei de um sonho.
Sem consciência de nada,
agindo por instinto - antes mesmo de ser humano.
Era parte humana, sem eu´s implícitos.
Era secreção
e nada havia em mim de político.
Apenas desejava adentrar aquele óvulo e fecundá-lo
com muita energia,
desprovido de cuidado, de intenção até.
Desperto do sonho,
depois de tanto me aprisionar,
um dia hei de renascer
para enfim
poder
acordar.




Fabiano Martins

quarta-feira, 13 de junho de 2012

À ação do tempo

Não me sinto coisa,
resguardo-me da pseudointelectualidade.
Sou inteligível devido à minha dualidade.
Existo sem motivo para estar, mas estou para existir.
Sacrifico-me entre gestos e poses
que em nada vão contribuir.
Sou altivo e sabedor de fatos verdadeiros.
Sou o que vejo, embora o apagado candeeeiro.
No escuro, voraz, eu me encontro
com o fato que me suporta até aqui.
Estou sempre me olhando do retrato,
imaginando que não sou mais eu
quem me sorri.


Fabiano Martins

terça-feira, 12 de junho de 2012

O ceticismo

Não há cartas
nem registros guardados.
Não há poesia,
nem linhas de caderno
rabiscadas.
Não há vitória traduzida
por bons atos.
Não há verdade.
Há silêncio.
Há ausência.
Ai de mim!

Não, não há preceito,
nem ensejo motivador.
Salvo de tudo, 
lembro que em Deus não há rancor.
Mas aonde é que ele está?
Traduzido na derrota de um... 
Na vitória de outro.
Traduzido na revolta que esquenta o ímpeto
por violência... aonde é que ele está?
Afinal, traduzido na beleza das flores, nas folhas.
No reumatismo, na conspurcação.
Na sagrada fogueira das vaidades humanas.
Na constituição.
Aonde é que ele está? Não o vejo, nem sei como
é sentí-lo.

Sofro com impulsos químicos e meu corpo responde aos estatutos com sobriedade.
Mas não estou só nesta teatralidade. Pois há também
o bufão e o executivo.
O gago e o tetraplégico.
O monge e seu traje típico.
Não sei como devo sentir Deus,
e isso é magnifíco.
Estou jogado nestes gases
criando artifícios,
tentando explicar o impossível.
Sendo sempre conduzido a acreditar,
através das citações dos que vieram antes,
de que é preciso ter fé.
Esta crença me fortaleceria durante os anos
e me faria produzir;
me faria ser feliz entre os segundos perdidos;
Perder-me pelo que reluz.

Mas meus olhos estão escurecidos,
esquecidos dentro de uma caverna.
Perdidos sem conhecer luz só podemos ficar
encerrados nas
trevas
do ceticismo.


Fabiano Martins