terça-feira, 30 de abril de 2013

Abandono

Ah! Uma alma notívaga -
dentre tantas outras -
anda pela linha do trem.
Alma incólume - não quer nada.
Unicamente deseja deixar de ser.
Eu a sigo pelo caminho.
Pequenina alma, cheia de vontades negadas.
Como pode o mundo ser tão duro contigo?
Eu sigo você por essa estrada,
e lhe desejo proteção.
Mas também não sou nada
e, portanto, nada posso fazer;
assisto à sua ruína num camarote
bem posicionado.
Ninguém se importa com a sua dor,
e nem mesmo você se importa
com a dor de ninguém.
Este é o fato.


Fabiano Martins

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Catecismo


É vago 
o soneto
que trata da ação;
sua verdade
tem vertentes alienadas
e desatenção.
É vago o soneto
cheio de versos.
É vaga
a solidão.
É vago o que pago,
muito vago,
entender a
didática
oração.

Fabiano Martins

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Diário

A cor do dia é intensa.
Às vezes se reflete no vidro da janela da casa da frente.
Revela a poeira escondida em pequenos grãos suspensos.
Às vezes aparecem nuvens e o clima ameniza.
Às vezes as nuvens negras encrespam as lisas,
é quando vem a tempestade. 
No verão, quanto maior a sua intensidade, maior o seu volume,
menor é o tempo que duram.
Às vezes, elas passam antes de começar.
Às vezes ficam.
A luz diminui conforme a Terra gira,
o sol ilumina outro lugar.
Rodamos em um planeta perdido,
até o último suspiro,
suspensos pelos fios do tempo
numa escuridão sem fim.


Fabiano Martins