segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Agora e na hora de nossa morte

Do cheiro de éter, vem uma manhã luminosa.
Pouco a pouco, caibo eu em um carro;
cabem minhas pernas
na parte da frente e
meus braços abraçados às costelas;
cabe o ouvido e a boca,
mas os olhos... estes não cabem.
Ah, sim! Cabem palavras e
letras demasiadas,
assim como o silêncio e o refluxo.
Inteiramente, torno-me cabide
de tudo que há no mundo:
Cabem as coisas erradas, a mentira e a náusea;
o amor, o ódio e o pecado, também cabem.
Caibo na CTI de algum hospital,
examinando friamente o que somos
nesta rotina ofertante de bem e mal,
pela madrugada.
Cabe-me o morto ao lado e o alívio imaginário
de estar em casa.
Sinto-me, curiosamente, diferente.
Caibo eu aqui quase lá,
desejando mais um pouco permanecer,
sem nem direito caber em tanta vontade de
amar.


Fabiano Martins

6 comentários:

  1. Porque somos tanto e o tempo todo
    e cabemos em tantos lugares,
    nos moldando...

    "Caibo eu aqui quase lá,
    desejando mais um pouco permanecer,
    sem nem direito caber em tanta vontade de
    amar."

    Muito bom!
    E este final então surpreendeu!

    Abraço, Fabiano!

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  2. Marlene,
    Realmente, diversas vezes a imposição nos faz caber.
    Obrigado pela visita.
    Abraço

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  3. Eu caibo numa qualquer caixa de fósforos, cabem os sonhos, as ilusões, a felicidade. Peço tão pouco e mesmo assim a caixa é tão grande.

    :)

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  4. MiM,
    Obrigado pela visita. Um dia essa caixa vai diminuir.
    Abraço

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  5. Notas de belleza en cada renglón...

    Un beso desde mis Amanteceres.

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