segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

o tempo

relativa calma
olhar condescendente
tristeza
calma fria e súbita que sobe pelos ouvidos e se deixa
não, não é de desespero
calma soberba, impávida
como quem olha sem olhar
e diz sem dizer
me ame!
palavras esquecidas, subtraídas do papel em branco
histórias de algum tempo
ou mesmo, tempo algum
deixava-se ainda como se quisesse morrer
deixava-se tudo
nada sentia
nada fazia
nada esperava
sofria apenas a angústia de não morrer
de ser apenas o que é hoje
passado inerte
vitórias esquecidas
glórias idas
e hoje, mais nada
além do que lhe deixou a idade
fraco, oprimido
triste
ninguém o via sofrer,
implorar por afeto...
sua percepção do mundo era maior
e sua dor infinita
via em ver apenas
e de levantar precisava.
A idéia de apodrecer deitado o castigava.
Ninguém,
mesmo em volta, pelos corredores, pelos bares...
ninguém.
Guimbas e papel em branco
meros arremedos da pouca distração
câncer de alma lhe acometia dores impensáveis
câncer.
A barba já não crescia,
a altura parecia encolher e o tempo lhe estendia o prazo
parecendo, querendo vê-lo sofrer
deixava-se então de pé
- morrerei ao menos de pé!
e ao meio-dia o anjo lhe apareceu
sucedeu um medo
tirando-lhe a calma habitual
depois o anjo lhe disse e não disse mais nada
aquela tarde parecia fria, o corpo frio, o tempo
acabou

Fabiano Martins

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