Algumas informações:
Fabiano de Mattos Martins, natural do Rio de Janeiro.
Nascido no dia Primeiro de Fevereiro de 1985.
Referências.
Para escrever é necessário ter o que falar. Mais do que forma, o conteúdo deve ser preservado. As palavras devem ter sentido. As figuras de linguagem devem ser bem construídas. Mas tudo seria apenas um castelo de areia sem a fundação da Referência.
Quando comecei a escrever, muito menino, amontoava palavras para torná-las sonoramente bonitas, tinha minhas referências nas canções populares que ouvia em casa, desde boleros, samba de todos os tipos, rock nacional, internacional, dos anos 60, 70, 80... enfim uma miscelânia de opções, que em mim encontraram desejo pela continuidade. A música veio antes da literatura para mim, e por causa dela, fui levado a querer dar minha contribuição. Porém, logo entendi que a minha parcela contributiva viria em forma de poesia e não de melodia. Reconheci isso com Vinícius, bendito Vinícius na minha vida, minha primeira grande referência. Já conhecia e gostava de Tom Jobim, mas apenas através da sensibilidade de Vinícius de Moraes, poeta maior da canção popular, é que pude compreender uma parte de mim. Logo, comecei a escrever algumas poesias carregadas no romantismo, que eram até bonitinhas, mas não passavam de cópias mal acabadas das coisas que ouvia. Na época mais rebelde da minha vida descobri os livros, e apesar da mente voadora, tinha preferência por textos documentais, como biografias e críticas à sociedade, dentre os quais destaco "Corações sujos", de Fernando Morais, e a biografia de Renato Russo, do Arthur Dapieve, sem esquecer, é claro, de "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva.
Nessa época a internet propagava-se com imensa força no Brasil, e tive acesso aos mais variados poetas. Descobri William Blake e Pablo Neruda, do primeiro ressalto o trecho que inspirou a banda The Doors a usarem esse nome: "quando as portas da percepção forem abertas, as coisas irão surgir como são: infinitas", e do segundo ficou "vinte poemas de amor e uma canção desesperada", livro de poesias lindíssimo. A filosofia foi apresentada a mim muito cedo, pela música de Raul Seixas, e qualquer coisa que escreva ficará aquém dos clássicos "Ouro de Tolo" e "Metro Linha 743". Durante uma época da adolescência conheci a contra-cultura brasileira nas músicas dos poetas da Tropicália, podemos citar aí Caetano e Gil como expoentes maiores, mas o meu preferido chama-se Torquato Neto, e dele o que mais me marcou foram "Cogito", e "Ai de mim, Copacabana", seu desapreço pelo tradicional mostrou-me o que de fato era originalidade. João Cabral de Melo Neto, Cecília Meirelles e Gentileza vieram logo depois. Mas foi em um livro chamado "Terror e êxtase", de José Carlos de Oliveira, que tomei nota pela primeira vez daquele que considero um dos maiores poemas já escritos, que se chama "Se te Queres Matar", de Fernando Pessoa. Esse poema fala coisas que permeiam e influenciam fortemente o que escrevo, um retrato metafísico frio, e ao mesmo tempo sensibilíssimo, sobre a condição de ser humano, "... A cinematografia das horas representadas/ Por atores de convenções e poses determinadas,/ O circo policromo do nosso dinamismo sem fim...". Quase naturalmente, encontrei outro poema que seria fundamental para mim, o seu nome é "Resíduo", e o autor é Carlos Drummond de Andrade. Nele, entendi a importância de se estar atento às coisas que passam pela nossa vida, porque por mais ínfimas que sejam, delas também algo restará em nós.
Durante a faculdade de cinema tive acesso aos mais diversos Filósofos, desde Cristian Metz a André Bazin. Conheci Vertov, Einseinstein (O Encouraçado Potemkin), Orson Welles ("Cidadão Kane", "A Marca da Maldade"), La Nouvelle Vague (Truffaut, Alain Resnais e cia), o Cinema Italiano ("Ladrão de Bicicleta"), o expressionismo, o surrealismo de Dali e Buñuel ("O cão andaluz", "Anjo Exterminador", "O charme discreto da Burguesia"). Familiarizei-me com as tentativas de traduzir o espaço-tempo de alguns dias em alguns minutos, e os efeitos do efeito phi... Sem falar no Cinema Novo de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Ruy Guerra, e os três filmes mais importantes dessa época, respectivamente (pela ordem de autoria): "Deus e o Diabo na Terra do Sol", "Vidas Secas" e "Os Fuzis". De Ruy Guerra, com quem tenho o orgulho de ter tido aula, ainda ressalto o poema na música "Fado Tropical": "meu coração tem um sereno jeito...".
No início da minha vida jovem-adulta, passei a frequentar a Lapa, e a aprender mais sobre o samba. Nessa época, fui a fundo na obra de Chico Buarque, principalmente. Tudo o que ele escrevia, a forma como as sílabas eram pronunciadas, o lugar em que estavam, a rima improvável, a sensibilidade poética... Aprendi mais sobre Cartola, Adoniran, Noel Rosa, Mário Lago... Descobri o que queriam dizer as letras do Clube da Esquina, entre as quais ressalto "Clube da esquina n° 2", "Feira Moderna" e "Travessia". Furei os discos de Elis Regina, Nara Leão, e, finalmente, me deparei com outro pilar fundamental, uma música chamada "A Palo Seco", de Belchior.
Diferente do que se imaginaria, foi nessa época que conheci a cultura punk, e aprendi com Sid Vicious e cia, "Anarchy in the U.K." é muito boa, e o álbum "Never mind the bollocks", excelente. Os ingleses acabaram fazendo com que eu me interessasse pelo norte-americano Jack Kerouac, precursor dessa "zorra toda" beatnic. Bob Dilan e Lou Reed também vieram mais ou menos nessa época, do segundo ressalto "Walk on the Wild Side". A partir de então, fui tomado por um interesse que me levou às frases de Che Guevara, que por sua vez me levaram para Marx. Cada vez mais instigado, pesquisei sobre a vida dessas pessoas, e suas propostas. Acabei descobrindo Mikhail Bakunin, anarquista de cujas idéias revolucionárias acredito serem o mais próximo de uma república ideal. Todavia, foi com Dostoiévski que aprendi realmente sobre todas essas idéias, o livro "Crime e Castigo" é um divisor de águas na minha vida. Sua tradução significativa é tão rica quanto a forma psicológica com que o autor apresenta a história. O diálogo de Piotr Pietrovich com Raskólnikov em seu pequeno quarto, na qual o capitalista defende a idéia de proteger seu cafetã, é uma voz que está gravada em minha cabeça e volta e meia aparece permeando um texto ou outro. Ele me fez descobrir um conceito fundador baseado nos preceitos da irmandande, e foi assim que descobri Beethoven, através de "Ode à Alegria", poema de Friedrich von Schiller, musicado pela imensa beleza da Nona Sinfonia, em que o tema principal é a fraternidade. Além de Schiller, um autor contemporâneo a ele que também marcou-me bastante foi Goethe, com "Os sofrimentos do Jovem Werther". Não posso cometer a loucura de esquecer todo o bem que me trouxe ler Saramago, e igualmente não devo esquecer de outros dois autores menos conhecidos, mas que contribuíram muito para minha formação, o paulistano Ferrez, e seu livro "Manual Prático do Ódio", e o filósofo carioca Marcelo Yuka, idealizador da banda "O rappa".
Fabiano Martins.
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Fabiano, surpreendente. Jamais o supunha formado em cinema, por exemplo. E que bela Apresentação. Uma clareza muito nítida sobre seu percurso, os poetas diletos, os autores, as influências.
ResponderExcluirOlha, fiz uma leitura rápida, de fim de dia, do seu texto; retornarei amanhã para efetivamente comentar. Meu amor pela poesia é muito grande, devo tomar cuidado com as palavras, afinal foi pela poesia que eu descobri isso, a não gratuidade do que se diz.
Mas, desde já, devo agradecer a gentileza desta Apresentação. Abraço.
Prezado Fabiano, sua formação/percurso é riquíssimo, e se apresenta pontos de contatos com o que reconheço no meu itinerário, por outro lado há muito mais singularidade. Todas as etapas que você aponta foram de fato etapas: você experimentou cada fase para então descobrir a seguinte, e tudo isso vai formando um amálgama em que é difícil perceber as linhas divisórias. Por exemplo, o seu livro antes e depois é "Crime e Castigo", já o meu é "Carta ao pai" (Kafka).
ResponderExcluirSua visão da música seria suficiente para fazer de você um ótimo letrista (e Torquato o foi), mas você mesmo diz que esta não é a sua senda, que seu caminho é outro. Esse conhecimento que você tem da obra de Chico Buarque, isso parece ser muito sugestivo de uma procura de poesia. Como não se encantar com a sensibilidade de Chico Buarque de Holanda? Você fala no Clube da Esquina, e é uma das minhas paixões, pois morei um tempo em Minas, e isso lá é muito forte, li livros sobre o movimento, e acho que o que eles criaram não encontra parâmetro, é diferente de tudo, da Tropicália, da Bossa Nova, de Edu Lobo, enfim, mostrando, por seu lado, a vitalidade do gênero canção entre nós, a sua explosão nas décadas de 60 e 70. O Clube da Esquina é um capítulo à parte, inclusive a diferença entre o Fernando Brant e o Ronaldo Bastos nas composições do Milton. O CD "Milagre dos Peixes" é um achado.
O Belchior também, estrela solitária que sequer deseja brilhar, só quer ofertar a vida que não consegue guardar apenas para si.
Bem, você tem o impulso de escrever poeticamente, tem essa necessidade, já sabe (conhece) a matéria de sua poesia. Mostrou uma sensibilidade afeita a Torquato Neto, e citou o "Cogito". Deve, também, conhecer a história de "Cajuína", obra-prima que é uma homenagem a Torquato. Eu descobri isso num volume intitulado "Leitura de poesia" (org. pelo Alfredo Bosi), que tem um capítulo do José Miguel Wisnik (aquele da USP) analisando "Cajuína". Muito bom, como aliás o volume como um todo, que você encontra nas estantes das faculdades de letras por aí.
Bem, me parece que seu arsenal é muito forte, e o diálogo com outros poetas pode agregar novos elementos, ajudando, inclusive, a ter um norte sobre o que fazer com isso. Assim, valeria a pena ler um Rimbaud, Baudelaire, Dylan Thomas (embora a tradução desde no Brasil não seja muito segura), para começo de conversa, e mesmo blogs que tenham na poesia um porto, ainda que eventual. Dos blogs que sigo, destaco:
http://raposasasul.blogspot.com/
- um tanto desorganizado, às vezes, mas com uma mão certeira a trazer um olhar radicado na África. Postou recentemente um texto muito curioso, Que pode a literatura?
http://raposasasul.blogspot.com/2011/07/que-pode-literatura.html
Dado Acaso: blog erudito sobre poesia moderna:
http://dadoacaso.blogspot.com/
- parece fazer a linha dos concretistas, que não me agrada muito, mas, como informação, aí está.
Tenho acompanhado, no Brasil, o blog do Marco Antônio, O Azul Temporário, que conta já com um público fiel, para o bem e para o mal:
http://azultemporario.blogspot.com/
Ele apresenta momentos de alta voltagem poética, e além de tudo é artista plástico.
Por fim, o blog da Lu Guedes, simpaticíssimo:
http://meninanosotao.wordpress.com/
Há este outro blog português, mas que não sigo, no momento não é prioridade:
http://poesiailimitada.blogspot.com/
Bem, já está ficando longo essa minha fala. Espero não estar sendo inconveniente.
Abraço.