A chuva caiu levando tudo.
Levou meu barraco,
meu filho,
me deixou mudo.
A chuva é desgraça pra comprar a bonança;
é tempo que nunca passa;
é o que marca a minha andança.
A chuva levou consigo
para enfim o carnaval encontrar.
Não digo que nunca digo,
pois gosto de tudo lembrar.
Da água ficou comigo
um sapato, um vestido.
E tudo ficou pra atentar
ao fato de que estou sozinho,
não é desatino,
não hei de acordar.
A lama vermelha, é lama.
A revolta no coração se conclama.
A paz se elege por aclamação,
mas é falsa.
É apenas dor mental esgotada pela física.
Não há choro e nem palavra
nesta média estatística.
O rio vermelho de lava
riscou em minha vida
tal a linha na minha mão.
Se é destino, não sei bem ao certo.
Acho mais que é intenção
De Deus? Não sei.
Do mal? também não.
Acho que a vontade de bicho
sobrepuja o artifício
e faz o homem levantar a sua mão
quando lhe oferecem comida,
um pouco de água,
toalha e sabão...
Dizem: Reconstrua logo sua vida.
Reconstitua-te da perda do irmão!
E a família que cedeu à enxurrada
na mesma tarde foi enterrada,
soterrada entre os córregos póstumos.
Ficou o azedume.
A carne humana inconforme
foi presa da vileza
e deixou natureza impune.
Os desígnios que vou acatar
são dados por quem me achou forte
a ponto de suportar.
Hei de lembrar que não tenho mais nada
e dos dedos feridos de tanto cavar
a recompensa de ver teus olhos de novo
não vou comigo levar.
Era sala, era chão,
Terra batida, meu coração.
Era filha, filho e irmão,
mulher, pai e mãe, contradição.
Era o que tinha comigo guardado
Todo dinheiro, todo o retalho,
um vira-lata,
minha atenção.
Corri, sei que corri,
mas vi que nada mais havia.
Senti, sei que senti
vontade de ir junto da família.
Mas não, e meus olhos fechei.
Mais, não! E meus olhos abri.
A boca espumou de vontade
de verdade
senti-me esvair.
Fabiano Martins.
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