Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho
Senão uma grande angústia obscura em face da Angústia
Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da
noite imóvel
E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?
De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra
Que se destrói à presença das fortes claridades
Mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério
E cuja forma é prodigiosa treva informe?
Que destino é o meu senão o de assistir ao meu Destino
Rio que sou em busca do mar que me apavora
Alma que sou clamando o desfalecimento
Carne que sou no âmago inútil da prece?
O que é a mulher em mim senão o Túmulo
O branco marco da minha rota peregrina
Aquela em cujos abraços vou caminhando para a morte
Mas em cujos braços somente tenho vida?
O que é o meu Amor, ai de mim! senão a luz impossível
Senão a estrela parada num oceano de melancolia
O que me diz ele senão que é vã toda a palavra
Que não repousa no seio trágico do abismo?
O que é o meu Amor? senão o meu desejo iluminado
O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo
O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar
Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes
A quem repondo senão a ecos, a soluços, a lamentos
De vozes que morrem no fundo do meu prazer ou do meu tédio
Qual é o meu ideal senão fazer do céu poderoso a
Língua
Da nuvem a Palavra imortal cheia de segredo
E do fundo do inferno delirantemente proclamá-los
Em Poesia que se derrame como sol ou como chuva?
O que é o meu ideal senão o Supremo Impossível
Aquele que é, só ele, o meu cuidado e o meu anelo
O que é ele em mim senão o meu desejo de encontra-lo
E o encontrando, o meu medo de não o reconhecer?
O que sou eu senão ele, o Deus em sofrimento
o temor imperceptível na voz portentosa do vento
O bater invisível de um coração no descampado ...
que sou eu senão Eu Mesmo em face de mim?
Vinícius de Moraes
quinta-feira, 28 de abril de 2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Lado B Lado A
Se eles são Exu
Eu sou Iemanjá
Se eles matam o bicho
Eu tomo banho de mar
Com o corpo fechado
Ninguém vai me pegar
Lado A lado B
Lado B lado A...
No bê abá da chapa quente
Eu sou mais Jorge Ben
Tocando bem alto
No meu walkman
Esperando o carnaval
Do ano que vem
Não sei se o ano
Vai ser do mal
Ou se vai ser do bem
...
O que te guarda a lei dos homens
O que me guarda a lei de Deus
Não abro mão da mitologia negra
Para dizer que
Eu não pareço com você
Há um despacho
Na esquina pro futuro
Com oferendas
Carimbadas todo dia
E eu vou chegar
Pedir e agradecer
Pois a vitória de um homem
As vezes se esconde
Num gesto forte
Que só ele pode ver...
Eu sou guerreiro
Sou trabalhador
E todo dia vou encarar
Com fé em Deus
E na minha batalha
Espero estar bem longe
Quando o rodo passar!
Espero estar bem longe
Quando tudo isso passar
O rappa.
Eu sou Iemanjá
Se eles matam o bicho
Eu tomo banho de mar
Com o corpo fechado
Ninguém vai me pegar
Lado A lado B
Lado B lado A...
No bê abá da chapa quente
Eu sou mais Jorge Ben
Tocando bem alto
No meu walkman
Esperando o carnaval
Do ano que vem
Não sei se o ano
Vai ser do mal
Ou se vai ser do bem
...
O que te guarda a lei dos homens
O que me guarda a lei de Deus
Não abro mão da mitologia negra
Para dizer que
Eu não pareço com você
Há um despacho
Na esquina pro futuro
Com oferendas
Carimbadas todo dia
E eu vou chegar
Pedir e agradecer
Pois a vitória de um homem
As vezes se esconde
Num gesto forte
Que só ele pode ver...
Eu sou guerreiro
Sou trabalhador
E todo dia vou encarar
Com fé em Deus
E na minha batalha
Espero estar bem longe
Quando o rodo passar!
Espero estar bem longe
Quando tudo isso passar
O rappa.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Heterônimo
Das lágrimas
restou a saudade
Das coisas duras
poesia
Dos ais mudos
prazer
Dos dias
as fotos
De tudo que é feio
a beleza de existir
Restou sim
de tudo
no meu coração partido
Restou assim
como quem se confunde
sem carinho especial
na conformidade
de morrer a cada dia
como quis o tempo
que deixou sobrar
um mais experiente
heterônimo meu.
Fabiano Martins
restou a saudade
Das coisas duras
poesia
Dos ais mudos
prazer
Dos dias
as fotos
De tudo que é feio
a beleza de existir
Restou sim
de tudo
no meu coração partido
Restou assim
como quem se confunde
sem carinho especial
na conformidade
de morrer a cada dia
como quis o tempo
que deixou sobrar
um mais experiente
heterônimo meu.
Fabiano Martins
sexta-feira, 8 de abril de 2011
Colheita
Mais um anjo no céu
O que sobra é tomar um calmante
mais um anjo no céu
o que sobra é dormir de forma leviana
mais um anjo no céu
o que sobra é calcinar a ferida da amputação
mais um anjo no céu
o que sobra é beijar o corpo imóvel
mais um anjo no céu
o que sobra é amaldiçoar o criador
mais um anjo no céu
o que sobra é arrumar o quarto
mais um anjo no céu
o que sobra é a vontade de morrer
mais um anjo no céu
o que sobra é a lamentação
mais um anjo no céu
o que sobra é a retaliação
mais um anjo no céu
o que sobra é lavar o sangue
mais um anjo no céu
o que sobra é o engasgo
mais um anjo no céu
o que sobra é apenas o desfecho trágico
Fabiano Martins.
O que sobra é tomar um calmante
mais um anjo no céu
o que sobra é dormir de forma leviana
mais um anjo no céu
o que sobra é calcinar a ferida da amputação
mais um anjo no céu
o que sobra é beijar o corpo imóvel
mais um anjo no céu
o que sobra é amaldiçoar o criador
mais um anjo no céu
o que sobra é arrumar o quarto
mais um anjo no céu
o que sobra é a vontade de morrer
mais um anjo no céu
o que sobra é a lamentação
mais um anjo no céu
o que sobra é a retaliação
mais um anjo no céu
o que sobra é lavar o sangue
mais um anjo no céu
o que sobra é o engasgo
mais um anjo no céu
o que sobra é apenas o desfecho trágico
Fabiano Martins.
Invisível
Não se sabe quem é poeta
Disfarçados de mendigos eles passam
honrando com afinco
o destino que o próprio Deus
lhes deu
Eles ambulam
pelas cidades
lavando carros
e catando do chão
cigarros
Os homens mais simples
são poetas
os bêbados
também o são
São igualmente profetas, os bêbados
de bares escuros
Os anjos os protegem
da morte
e sua sorte
é levar até o fim
das consequências
O desejo de poesia
Longe da rispidez midiática
dos pokemons
Longe dos vários holofotes
ligados lá
Solitários
Tristes
Presos
omissos
Poetas do mundo
invisíveis
que fazem sua vida
em meio a feiúra
e acham beleza no sofrimento
que lhes apura
a forma
e enche de significado
o que dizem
Pois é na carne própria que se cortam,
e das das suas entranhas que nasce
o que é verdadeiro.
Fabiano Martins.
Disfarçados de mendigos eles passam
honrando com afinco
o destino que o próprio Deus
lhes deu
Eles ambulam
pelas cidades
lavando carros
e catando do chão
cigarros
Os homens mais simples
são poetas
os bêbados
também o são
São igualmente profetas, os bêbados
de bares escuros
Os anjos os protegem
da morte
e sua sorte
é levar até o fim
das consequências
O desejo de poesia
Longe da rispidez midiática
dos pokemons
Longe dos vários holofotes
ligados lá
Solitários
Tristes
Presos
omissos
Poetas do mundo
invisíveis
que fazem sua vida
em meio a feiúra
e acham beleza no sofrimento
que lhes apura
a forma
e enche de significado
o que dizem
Pois é na carne própria que se cortam,
e das das suas entranhas que nasce
o que é verdadeiro.
Fabiano Martins.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
"Se você pegar o mais ardente revolucionário, e investi-lo de poder absoluto, dentro de um ano ele seria pior que o próprio Kzar(...) Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana."
Mikhail Bakunin.
Mikhail Bakunin.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Geração -?-
Eu gostaria sinceramente
de encontrar menos forma
e mais conteúdo
nas coisas que vejo
por aí.
Principalmente
naquilo que é belo
mas é feio.
Necessariamente
será difícil.
Não há mais referências
apenas tendências
desconectas que
desvanecem-se com a fragilidade
de um punhado de areia ao vento.
Eu queria sinceramente
discutir idéias
que fossem ser colocadas
em prática
sem teor hermético.
Eu gostaria
de reaprender
o que aprendi,
re-discutir o que já discuti
e dizer de novo
sobre o novo
de cada coisa
não mais mencionada.
Mas só há letras extraídas
em músicas agitadas,
pular ao invés de pensar
e embalar
uma geração inteira
com preguiça mental,
sem dores pela dor dos outros,
apenas pragmático egoísmo.
Mais ou menos como
pregou Piotr Pietróvitch
para proteger seu cafetã...
Fabiano Martins
de encontrar menos forma
e mais conteúdo
nas coisas que vejo
por aí.
Principalmente
naquilo que é belo
mas é feio.
Necessariamente
será difícil.
Não há mais referências
apenas tendências
desconectas que
desvanecem-se com a fragilidade
de um punhado de areia ao vento.
Eu queria sinceramente
discutir idéias
que fossem ser colocadas
em prática
sem teor hermético.
Eu gostaria
de reaprender
o que aprendi,
re-discutir o que já discuti
e dizer de novo
sobre o novo
de cada coisa
não mais mencionada.
Mas só há letras extraídas
em músicas agitadas,
pular ao invés de pensar
e embalar
uma geração inteira
com preguiça mental,
sem dores pela dor dos outros,
apenas pragmático egoísmo.
Mais ou menos como
pregou Piotr Pietróvitch
para proteger seu cafetã...
Fabiano Martins
Viver
Entro por um bar escuro,
não há nada além de uma batida muda
ressoada em sons graves
que parecem demolir a parede.
Entro por um bar escuro
um passo
afinal
para ver
uma luz que atenta
no final do corredor
traz a mim
a vontade de correr
para encontrá-la
Ando por um corredor,
um labirinto,
me perco da luz
e por vezes me omito
Grito
por socorro
por ajuda para a luz encontrar
Morto, sou eu que
morto
acho em mim o meu lugar
Aonde está?
Mudo, ressoando nas paredes
Tão escuro e confuso
que me transtorna algumas vezes
A mágica de tudo iluminar
é trazida à tona
quando a festa que te abona
encontra seu limiar
Então,
o horizonte de eventos
te sugará
e lançará
tua alma para uma festa em outro lugar...
Ando por um bar escuro
foi assim que tudo começou
Via um passo,
mas não via tudo
só pude ver ao iluminar
E com clareza
entendi
que a festa acaba
no acender das luzes
E a verdade
perseguida
pelos passos no escuro
são como cruzes
carregadas
por andarilhos cegos
e mudos.
Fabiano Martins
terça-feira, 5 de abril de 2011
Admoestação
Vivo clamando ao destino
pela sua admoestação
pela sua benévola prática
que resulte em
sorte, algo bom,
Mas não se clama ao invisível
ingenuamente
esperando redenção
Há que se clamar em desatino
enclausurado
ou no ostracismo da solidão
Deve-se clamar
encerrado na dor de ser
dono das próprias escolhas
Homem fiel a si
e que traz mágoa
a quem espera lhe pôr rédeas
Vivo lutando (em detrimento de esperar),
pela admoestação do destino,
pelo som que seu vento soprar
ao meu fiel ouvido
que lhe quer escutar.
Paro então pois o quero ver,
não apenas ouvir.
Ajo então para merecer
o fruto da dor em meu porvir:
Que se abram caminhos!
Para os guerreiros renitentes,
para os que caminham sozinhos
matando a sede n´água ardente,
Para os que mereçam seu lugar ao sol,
carregadores de pianos ou cruzes
com lágrimas no terço
ou apenas nos olhos terçol.
Fabiano Martins
pela sua admoestação
pela sua benévola prática
que resulte em
sorte, algo bom,
Mas não se clama ao invisível
ingenuamente
esperando redenção
Há que se clamar em desatino
enclausurado
ou no ostracismo da solidão
Deve-se clamar
encerrado na dor de ser
dono das próprias escolhas
Homem fiel a si
e que traz mágoa
a quem espera lhe pôr rédeas
Vivo lutando (em detrimento de esperar),
pela admoestação do destino,
pelo som que seu vento soprar
ao meu fiel ouvido
que lhe quer escutar.
Paro então pois o quero ver,
não apenas ouvir.
Ajo então para merecer
o fruto da dor em meu porvir:
Que se abram caminhos!
Para os guerreiros renitentes,
para os que caminham sozinhos
matando a sede n´água ardente,
Para os que mereçam seu lugar ao sol,
carregadores de pianos ou cruzes
com lágrimas no terço
ou apenas nos olhos terçol.
Fabiano Martins
sexta-feira, 1 de abril de 2011
DNA
Sim, da América eu sou
Americano do Sul
Brasileiro
de fé inconsútil e trato verdadeiro
Eu sou mandingueiro
Real
eu sou meu próprio plano
sem escusos esquemas,
apenas o meu dilema
de entrar por entre as frestas frescas do sistema
que me aliena
e me condena
nestes ventos soprados do norte
em direção
à América de Cabral.
Eu sou minha propria pá de cal
nesta construção
Não figuro entre as instituições mais caras
sou da terra onde os bancos lucram
com as amarras
deste capitalismo tupi
adaptado por anos de evolução de senzalas que deram em favelas
de luzes em dois e mil e tantos anos, que não passam de velas
e que se soprar
apagam.
Eu sou o fruto da malandragem lapense
do comodismo público
da figura em ostracismo do amar o próximo,
da fervorosa fé cristã sem puritanismo
e mesmo dos evangélicos que não vêem o abismo sob os pés.
Eu sou da terra em que não há leões
mas jaguatricas,
lobos guarás
Eu sou das fazendas no interior de Minas Gerais,
das revoluções épicas
do calor inimaginável
eu sou do império de Pedro e cia
eu sou aquele que vivencia
o que Getúlio legou
depois que o tiro o matou.
Eu sou herdeiro de Tancredo, de seu medo
do esquecimento,
eu sou do futebol regado à carne queimada
da felicidade que se apaga
em frente à novela.
Eu sou parintins e um tanto maranhense quando ouço
em inglês a pregação de marley
Eu sou holandês, pq também sou Recife
não de peixes, mas de Pernambuco
(ao nordeste ensolarado)
Eu sou o chão queimado,
a Seca eu sou também.
Pulmão do mundo, Amazônia aberta em flor
remédio pra curar a dor
do inglês
eu sou
descendente de português
e ando enviesado nas esquinas.
Tenho burlado as leis que o sistema imagina
mas o faço apenas
por ser quem sou
quando do folclore, apenas o saci restou.
Estou aqui, pois preciso lhe dizer
Que por conta de tudo isso
subproduto não posso ser
nem tão pouco imperialista como nos acusam os hermanos,
não somos porcos...
Índios de roupa, eis o que somos.
Fabiano Martins
Americano do Sul
Brasileiro
de fé inconsútil e trato verdadeiro
Eu sou mandingueiro
Real
eu sou meu próprio plano
sem escusos esquemas,
apenas o meu dilema
de entrar por entre as frestas frescas do sistema
que me aliena
e me condena
nestes ventos soprados do norte
em direção
à América de Cabral.
Eu sou minha propria pá de cal
nesta construção
Não figuro entre as instituições mais caras
sou da terra onde os bancos lucram
com as amarras
deste capitalismo tupi
adaptado por anos de evolução de senzalas que deram em favelas
de luzes em dois e mil e tantos anos, que não passam de velas
e que se soprar
apagam.
Eu sou o fruto da malandragem lapense
do comodismo público
da figura em ostracismo do amar o próximo,
da fervorosa fé cristã sem puritanismo
e mesmo dos evangélicos que não vêem o abismo sob os pés.
Eu sou da terra em que não há leões
mas jaguatricas,
lobos guarás
Eu sou das fazendas no interior de Minas Gerais,
das revoluções épicas
do calor inimaginável
eu sou do império de Pedro e cia
eu sou aquele que vivencia
o que Getúlio legou
depois que o tiro o matou.
Eu sou herdeiro de Tancredo, de seu medo
do esquecimento,
eu sou do futebol regado à carne queimada
da felicidade que se apaga
em frente à novela.
Eu sou parintins e um tanto maranhense quando ouço
em inglês a pregação de marley
Eu sou holandês, pq também sou Recife
não de peixes, mas de Pernambuco
(ao nordeste ensolarado)
Eu sou o chão queimado,
a Seca eu sou também.
Pulmão do mundo, Amazônia aberta em flor
remédio pra curar a dor
do inglês
eu sou
descendente de português
e ando enviesado nas esquinas.
Tenho burlado as leis que o sistema imagina
mas o faço apenas
por ser quem sou
quando do folclore, apenas o saci restou.
Estou aqui, pois preciso lhe dizer
Que por conta de tudo isso
subproduto não posso ser
nem tão pouco imperialista como nos acusam os hermanos,
não somos porcos...
Índios de roupa, eis o que somos.
Fabiano Martins
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