segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tergiversar

Tergiversastes à sua dor
saiu à noite
a procura
do que em si
deixou
Valeu-se do bom corpo
Tanto
que lhe fizeram adorno
Valeu-se do que tinha
à mão para lutar
Tergiversou à sua dor
mas desconhece o próprio lugar
Lúgubre é
seu caminhar
por si mesma
um dia vai acabar
por si mesma
em mim mesmo
mesmo eu
sozinho neste lugar
te olhando tergiversar
aviso
nada mais há para assistir
nada mais há para morar
A veia usurpada está
não lhe corre sangue
não lhe ocorre nada
em nada habitará
Havia chegado cedo
tentou se esquivar
já era meio dia
e continuava no mesmo lugar
"Não!" eu lhe gritei
Não vá por ali caminhar
o perigo é atrativo e luxuoso
mas o lixo é real e sinuoso
se encontra mais fácil em qualquer lugar
"Não!" eu gritei ao te ver partir
Depois: "Vá pra onde desejar"
disse eu a mim mesmo,
perdendo-me no encontro dos olhos
sucumbindo ao fio de quem não sabe amar


Fabiano Martins

3 comentários:

  1. Muito bonito! Gostei de reavivar em minha memória esse verbo que nunca uso, por incompetência mesmo: "tergiversar". Nem nunca atinei para seu sentido. Parabéns pelo belo poema.

    Abraço.

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  2. Obrigado, Frank e Mariana. Às vezes gosto de escrever com esses verbos que a gente nunca usa. Uma vez escrevi um com o verbo aluir. É bom brincar com as sonoridades diferentes, não acham? Abraços.

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