O que te sobra quando
dos estressantes relacionamentos empregatícios,
dos realmente imensos edifícios,
dos dias mais omissos,
aparece o momento em que a glória falta
e a Grande Aventura se revela?
Sobra você, bem constituído ser, edificando uma pirâmide
cujo o resultado final nunca lhe será permitido ver.
E, às mãos calejadas de tanto sofrer,
sobra a desgraça de saber que não é chegado a nós o
segredo por trás das potências que regem as coisas do mundo.
Um homem só é destinado ao que seu corpo percebe.
Eu entro pela esquerda, enquanto alguém sai pela direita.
Repulso com violência o que alguém conserva.
Há muitos vieses e o pragmatismo trará lugares seguros.
É como uma peça mal ensaiada:
todos divergem quanto às ideias
e deste caos discordante, empiricamente,
a evolução acontece.
Fabiano Martins
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Prólogos, resumos e epitáfios
I
Os teus olhos não são negros
nem dezembros,
nem castanhos.
São cinzas
de um fogo que se apagou
com os anos,
entre os fatos.
Da tua vida me lembro um pouco,
algo se perde
no caminho torto,
que a memória
vem trazer aqui.
II
Há um quarto,
uma luz fria,
um silêncio simples,
uma calmaria.
Há um retrato na estante
do céu de um dia,
onde se pode ver
a face negra de Maria.
Ela sorri.
Está viva.
Olhos mel, boca rosa.
Tinha um ar sereno de moça,
e uma força
que luzia
contradita à escuridão
que intermitente
aparecia.
III
Morreu por amar de menos.
Por morrer não se encontrou.
Não sabia quem era.
Não podia voar.
Sempre livre, nunca livre.
Com frases embaixo do braço a guardar,
a se resguardar do embaraço de errar,
a ser pudico e condizente,
contido e descontente
até não mais poder,
até não mais querer
até seu fim causar.
IV
Minhas frases eu levo comigo,
meu sorriso eu dou.
Minhas tardes se foram breves
e minhas noites infinitas.
Vivi de amanhãs.
V
Ante o peito em fastio,
ante a mente em baixio,
A ver o sol sempre poente
cada vez mais se tornar
fugidio
e o amor adoecer lentamente
até virar um vazio,
tentou ser feliz
A todo custo.
Fabiano Martins
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Vário
Existem as pequenas coisas e as grandes.
Ambas só podem ter a sua dimensão determinada
quando observadas à luz de uma variável:
O tempo.
Só podemos ver as coisas grandes com o tempo.
Às vezes, o que nos parece ser uma grande conquista
é apenas o início da destruição;
às vezes, o que se faz todo dia, numa dedicação invisível,
toma um adorno grandioso
passado o tempo,
passados nós.
Fabiano Martins
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
O fim de el Sordo
No final, estão entrincheirados no alto da montanha
entre os aviões que simbolizam um revoar de bombas iminente
sobre os corpos imóveis, escondidos entre as carcaças
de cavalos mortos.
O que pensam se aguardam a morte?
Se aguardam a morte pensam nela.
Um jeito resignado, apaixonado pela revolução,
abafa o medo latente.
O sangue ainda pulsa, "então leva contigo ao menos uma alma",
mas atirar agora seria denunciar a localização,
ao passo que não fazer nada é ao mesmo tempo
sufocante e reflexo de uma outra forma de resignação.
As bombas caem como chuva. Esta é a guerra:
As ideologias contrapostas,
postas à prova da força,
da medida desigual,
da barbárie.
Ordem, ordem... não há ordem nas montanhas,
há dor e abandono...
de certeza acumuladas sob os sóis das incontáveis manhãs,
de palavras apinhadas,
salpicadas pelo afã de um medo inconsútil - sem início, sem final.
Ordem?
Não há ordem nas montanhas,
onde nos falam da luta contra o fascismo e da revolução.
Ordem imposta com saliva e sangue
bem-sucedida pelo coração vítima das bombas.
Ordem,
dura ordem plana;
humana.
Fabiano Martins
entre os aviões que simbolizam um revoar de bombas iminente
sobre os corpos imóveis, escondidos entre as carcaças
de cavalos mortos.
O que pensam se aguardam a morte?
Se aguardam a morte pensam nela.
Um jeito resignado, apaixonado pela revolução,
abafa o medo latente.
O sangue ainda pulsa, "então leva contigo ao menos uma alma",
mas atirar agora seria denunciar a localização,
ao passo que não fazer nada é ao mesmo tempo
sufocante e reflexo de uma outra forma de resignação.
As bombas caem como chuva. Esta é a guerra:
As ideologias contrapostas,
postas à prova da força,
da medida desigual,
da barbárie.
Ordem, ordem... não há ordem nas montanhas,
há dor e abandono...
de certeza acumuladas sob os sóis das incontáveis manhãs,
de palavras apinhadas,
salpicadas pelo afã de um medo inconsútil - sem início, sem final.
Ordem?
Não há ordem nas montanhas,
onde nos falam da luta contra o fascismo e da revolução.
Ordem imposta com saliva e sangue
bem-sucedida pelo coração vítima das bombas.
Ordem,
dura ordem plana;
humana.
Fabiano Martins
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Efêmero
A Terra rasga a escuridão do espaço
a milhares de quilômetros.
Você se mexe sem saber.
Tua química está em mim também.
Você se movimenta e me leva contigo
É tudo muito rápido:
Quando vemos existimos,
Quando vemos estamos falando
Quando vemos temos preferências
Quando vemos estamos fazendo escolhas.
E no fim,
Estamos velhos.
Aproveite as chances desse vôo,
você só terá uma chance. Esta chance.
Não duvide:
Uma chance.
Com sorte 90 anos, talvez menos.
Talvez bem menos...
A Terra rasga a escuridão,
Então deixa esse sol regalar tua retina!
Ofereça o teu coração,
Viva!
A Terra, você, eu...
É só agora.
Fabiano Martins
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Por quem os sinos dobram?
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”
No original:
For Whom the Bells Tolls
“No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were. Any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee"
John Donne
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