quarta-feira, 25 de julho de 2012

Inocência

Irrompe o homem
num duelo antigo:
dá-se em seu peito
o odio como amigo;
O amor desfeito
acaba por desmedí-lo.
Irrompe a criança para ser lascivo.
O pecado acompanha a alegria 
e a beleza também lhe faz companhia.
Em seu peito a harmonia
não se queda tão simplesmente...
os receios do caminho desvirtuam 
e são urgentes.
Acontece quase sempre
e quase não podemos ver:
esquece o homem da criança
mesmo sem querer.


Fabiano Martins

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Reza

A Deus, reclamo como a um amigo.
Digo-lhe que estou desamparado,
digo-lhe que estou perdido.
Propõe-me, Ele, sem dizer uma palavra,
um caminho.
Em silêncio, eu reclamo a Ele sobre os fantasmas 
que se escondem no escuro,
sobre os ecos da noite que reverberam em meu quarto,
sobre todos os perigos.
Ele me responde sem dizer,
sem sinalizar, sem se mexer.
Ele me responde com fatos que não sei reconhecer.
Eu me aprisiono à Sua visão altiva, 
à Sua altivez amiga,
ao Seu peito imaginado.
Reconforto-me no presente,
significo meu passado.
A Ele reclamo sobre o véu
que a noite pôs sobre meus olhos,
sobre a estrada que desaparece sob meus pés,
sobre o abismo que é pensar na morte.


Fabiano Martins

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O dinamista

Tento entender o próximo,
com suas manias e jeitos externos aos meus.
Tento entender o próximo
como se ele não fosse parte do todo
e sim um satélite orbitante da Terra,
de trajeto aleatório.
Tento entender os fatos amontoados e 
sobrepostos.
A minha palavra está viva, mas também
não a posso ler. Não a posso entender.
Contraditoriamente, não a posso igualmente evitar.
Tento entender, mas ao olhar para cima e perguntar por quê, 
tudo o que tenho de volta é o nada.
Um vazio esperançoso onde guardo um pouco de 
motivação.
Tento entender a tarde e sua luz material.
Tento compreender a dinâmica da vida.
Tento pensar que talvez não pertença
mas isso é tudo o que tenho.
Então, me agarro às pequenas percepções 
de minha mente espontaneamente projetada
para encontrar na resposta feita ao infinito
Nada.


Fabiano Martins

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Aqui

Aqui está a dor - ela te fará sofrer.
Poderá pensar, e, por isso, há de clamar,
há de chorar,
de não entender...
aqui estão teus olhos - só enxergarão parcialmente.
Aqui está tua cabeça, tuas deturpações,
tua mente.
Tua pequena prisão ressurtida
entre as coisas ouvidas
e aquelas que sente.
Aqui estou Eu.
Eu sou Verbo.
Premente.
Aqui está teu paraíso,
tua noção de gosto,
teu modo impreciso, teus aforismos,
teus apostos.
Aqui está teu egoísmo,
teu ódio, teu suplício.
Aqui está o que não vai poder entender.
Aqui estou Eu.
Eu 
sou 
Verbo.
Eu sou você.


Fabiano Martins.

Destino

Nós não fomos o que pensáramos ser;
por sorte, fomos mais idealistas.
Hoje, os dias chovem em tempestades de recordações.
Às vezes, me percebo vacante de emoções.
Atravesso o labirinto atrás do que convém,
me dou ao que sinto, pois muito querer vira desdém.
Preciso ir mais rápido, menos lento,
mais apto e sedento.
Acho que não só pelo que ouvia;
fui levado a ser quem sou também
pela rebeldia.
E, embora seja uma ironia,
me tornei exatamente
aquilo que
deveria.



Fabiano Martins

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Vicissitude

Eu sonhei contigo.
A noite incide sobre a consciência
como um falso amigo.
Eu sonhei que você usava
um hábito antigo,
um sorriso no lábio,
um fato escondido.
Eu sonhei contigo
E nessas horas o desejo me dá as mãos
e o caminho é abrigo.
Sonhar é acordar.
Eu quis, mas não pude.
Vicissitude...
eu sonhei contigo.


Fabiano Martins