Céu
Não é mais azul
Rua
Não está mais limpa
Pessoa
Interrogação
O medo que se apresenta em seu olho
É a prerrogativa da preocupação
O medo de trazer para esse mundo uma criança
Faz cair por terra o desejo imaterial da esperança
E da propagação
Vejo apagar no seu corpo
A humanidade inteira
Que tipo de gente traz para esse mundo inocentes
A fim de corrompê-los
Ao final de mais corrupção
Que tipo de gente se faz contente e deseja e ambiciona e quer
Tanto
Que é incapaz de ver
Que nada fica depois da cremação...
(Nem mesmo DNA)
E depois de ouvir o avô dizer
E a mãe conceber
O que se sabe é apenas o que se há para saber:
O filho vai ter o mesmo destino
Morrer
Mas a morte é a presença mais vital da vida
É o futuro único que podemos prever
E mesmo assim pergunto:
Que pessoa quer morrer?
Mas se a rua não está mais limpa
E o mar está cheio de lixo
Se a pessoa não quer mais só comida, e separou-se dos outros bichos...
Pergunto: Por quê?
Se no desterro encontro o desterrado
E no lado nobre, quem está do outro lado
E aqui, onde fico parado,
Não dá pra ver a ambigüidade do futuro jogado
Assim, como quem nada quer
E do tempo, a esmo, sórdido
Sobra uma mordida
Sobra um propósito
Invisível
Não – na minha opinião este propósito
Não deve ser a vã propagação
Nem mesmo a confissão de que nada sabemos
Mas sim, a sequência da pergunta que já fiz
E escondida permanece sempre por um triz
Quase a ser descoberta
A pergunta verdadeira
Feita ao universo
A pergunta que liberta
e nos faz crescer
nos aproxima do divino e nos impede de morrer
a pergunta não é quando
a pergunta é
Por quê?
Fabiano Martins
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