Quando não há criança, nem olhares,
nem verdades em que se acreditar.
Quando os sonhos ficam órfãos
e a credulidade dá as mãos ao abandono.
Sozinho é que nos encontramos.
Sozinho é que estamos.
Quando dentro de nossas cabeças as partes se misturam
para criar uma história,
o todo nos foge pelas mãos.
O todo nos escapa dada à fraca compreensão.
Quando a esperança é uma criança branca
e nós somos negros,
segregamos contentes e felizes
o nosso zelo.
Aprumar-se para o enfrentamento do mar, então,
pode significar uma dor compartida,
construída na solidão e amenizada em grupo, porém uma dor imortal,
que só deixa de existir depois que nós deixamos,
uma dor que aparece apenas quando somos adultos e
nos deparamos com as mentiras que disseram para nossa proteção.
Somos crianças, sim. Vivemos num mundo construído pelo medo.
Cabemos no ínterim entre nascimento e falecimento,
para dar adeus, para amar, para experimentar as sensações,
o álcool, o sal, o açúcar
e os sentimentos.
Cabemos, às vezes, em um microssegundo de felicidade
que guardamos para quando as coisas não vão bem.
E sim, quando não há verdades em que se acreditar
é preciso criar.
Criar é preciso.
Fabiano Martins