quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Dormir

"A boca de espuma e a mão espalmada,
que contradição..." - pensou.
E continuou seu pensamento ébrio:
"Logo eu que nunca gostei de Chico Buarque!"
Mas havia confundido a autoria do poema,
que era de Vinícius de Moraes,
o Soneto da separação "De repente do riso fez-se o pranto..."
E levou adiante seu divagar à luz de parcas estrelas
escondidas entre o brilho do sol;
Pegou seu prozac, seu rivotril e um punhado de outros comprimidos
e levou à boca,
mastigou
uma,
duas,
três vezes
e engoliu!
Sentiu-se feliz por poder dormir
"Dormirei esta noite feliz"
Mas não era natal,
e o beco úmido fez-se brejo de sapos e rãs, é claro, interpretados por
ratos e baratas,
e quem fazia as vezes de esteira e cobertor eram os jornais velhos e os sacos de lixo.
Deu asas ao sonho.
Suas roupas eram particularmente boas para aquele fim, e o breu do sono induzido fez o mundo desabar em silêncio,
Dentro de suas pálpebras brilhavam pôses em prédios, mulheres e carros em elegante resumo de sua vida de excessos.
Pela noite, uma coruja soturna posou à sombra de um poste próximo
Luz amarela,
A coruja de olhos abertos, pousava sua atenção ao rato, e a presa secundária vislumbrava paz em seu bocejar.

Fabiano Martins

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