"Oi, chuva" - disse a gota doce e cristalina de água de rio calmo.
Quando evaporada se juntou a outras gotas
mais exasperadas,
que antes eram salgadas e sujas
mas que agora, filtradas,
amontoavam-se umas dentro das outras
num lago sublimado, voador
sobre as nossas cabeças.
"Oi, chuva" - disse eu, rapaz de boa índole,
ao me deparar com a primeira gota ácida
que me atingiu no fim da tarde.
Eu preferi ficar ali
quase a tocar a teia do real.
Eu senti o frio carnal e
a vontade de ser como a chuva.
Fabiano Martins
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